A dor da perda de um filho é imensa, mas o que dizer quando você não tem certeza? Mães de filhos desaparecidos sabem bem o que é viver esperando, tendo apenas a esperança como motivação. Essa dúvida que corrói também dá forças para continuar, e agora elas estão mais unidas, buscando por justiça e apoio.
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Uma história de luta e féCrédito: Facebook Sandra Moreno
A comovente história de Sandra Moreno é única e, ao mesmo tempo, infelizmente, comum a muitas pessoas. Ela perdeu sua filha caçula, da pior forma possível – sem saber se está ou não viva. É uma espera e agonia que nunca termina, em que nem o processo de luto é possível, pois ela não sabe o que está de fato acontecendo.
Ana Paula, sua filha, acordou cedo – como fazia todos os dias – se arrumou e saiu para o trabalho. Antes de ir, tentou chamar seu irmão mais velho para fazer companhia (e proteção) até o ponto de ônibus, mas naquele único dia ele não conseguiu levantar a tempo. Foi então que ela saiu para trabalhar, ainda escuro, pois tinha que chegar no trabalho às 6 horas da manhã.
Sandra também trabalhava lá e pegava o turno seguinte, que começava às 14 horas. Era uma empresa que imprimia provas para concursos públicos, com toda a segurança relacionada e somente pessoal de confiança. Assim que chegou, estranhou a ausência da filha, pois sempre se encontravam na troca de turno.
Foi então que perguntou sobre Paula, mas disseram que ela não tinha chegado. Até então, ela achava se tratar de um mal entendido e ligou para a filha. Seu telefone – que sempre estava ligado – deu caixa postal e foi então que Sandra sentiu um aperto no coração. Ela procurou informações com a empresa de ônibus, para saber se sua filha tinha embarcado e o seu ticket não constava lá.
Além disso, buscou analisar as câmeras de segurança que ficam em volta da empresa e viu que ela não tinha desembarcado no ônibus de costume e nenhum outro. Foi então que ela reuniu as informações e às 18 horas do dia 3 de outubro de 2009, foi até a delegacia de polícia. Ela oficialmente era mãe de uma jovem desaparecida, de apenas 23 anos de idade.
Mudança
Chegando na delegacia, ela contou tudo o que sabia e entregou todos os dados que coletou naquela tarde. O policial registrou o boletim de ocorrência e pegou o material, para colocar nos arquivos. Ele chegou a dizer que ela tinha feito grande parte do trabalho deles, deixando Sandra esperançosa, pois estava, em tese, mais fácil.
Para sua decepção, nada mais foi feito e sua filha continua desaparecida até hoje. Ela diz que tem certeza de que Paula ainda está viva, em seu coração, por isso não perde as esperanças. Porém, assim como ela estão centenas de mães que perderam seus filhos para o esquecimento do Estado, entre tantos outros crimes considerados mais graves.
Foi então que ela decidiu fazer uma mudança importante, para ela e muitas outras pessoas na mesma situação. Criou o instituto Ímpar, com o objetivo de “atender famílias vitimizadas pelo desaparecimento de pessoas, promovendo acesso aos direitos sociais, incitando políticas governamentais para o setor e facilitando o reconhecimento pela população desta grave violação de direitos humanos”.
Dessa forma, transformou toda sua dor e raiva em ação, procurando unir pessoas que passam pela mesma situação. Quando se perde alguém da família para o esquecimento, passa-se a ser ímpar, perdendo a metade de si. E é essa sensação que o instituto tenta preencher, com um grande abraço e ações consistentes em prol de justiça.
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